Liberdade de escolha e o novo normal: apontamos 5 hábitos que vieram pra ficar na rotina
Por Francine Costanti
No último ano, vivemos mudanças bruscas de comportamento em todos os sentidos: social, profissional e mental, ao mesmo tempo em que aprendemos a adaptar a rotina com novos hábitos e abrir a mente para outras possibilidades de ações. Para contextualizar toda essa transformação, mais abaixo apontamos 5 hábitos que vieram pra ficar na rotina.
Nesse cenário, também tivemos que refletir sobre o fato de ficar em casa ou sermos expostos a riscos altos de contaminação, o que nos obrigou a criar prioridades, como por exemplo, cuidar da saúde mental e física, da alimentação e entregar trabalhos no prazo.
Por outro lado, o confinamento criou laços afetivos maiores entre as famílias, já que antes passávamos boa parte do dia fora de casa e sem tempo para um convívio mais próximo. O contato com amigos ficou mais intenso mesmo acontecendo em frente às telas dos computadores.
Para definir esse momento de isolamento social, especialistas trouxeram o termo “novo normal”, dando a ideia de que as pessoas sempre conseguem se adaptar a todas as surpresas no meio do caminho, reforçando o conceito de que tudo é uma questão de costumes, mesmo em tempos de crise.
Percebemos que liberdade de escolha nunca fez tanto sentido, porque podemos escolher como viver e melhorar a qualidade de vida com atos simples, independente de estar dentro ou fora de casa.
Uma pesquisa feita pela Bain & Company, consultoria global que ajuda empresas a criarem mudanças que definem o futuro dos negócios, mostrou que existem três tendências de comportamento no “novo normal”: a migração para os serviços online, maior foco em saúde física e mental e a redefinição de valor, em que o consumidor avalia se o produto realmente vale a preço que custa.
A seguir, apontamos 5 hábitos que vieram pra ficar na rotina!
Home office definitivo x modelo de trabalho híbrido
As medidas de isolamento social impostas pela pandemia da covid-19 fizeram as empresas adotarem o trabalho em home office. Inclusive aquelas que só conheciam a jornada presencial fizeram dessa prática uma rotina, assim como as que já trabalham remotamente em alguns dias e horários da semana.
Em pouco tempo, milhares de pessoas tiveram que adaptar um espaço em casa para cumprir o horário de trabalho e participar de reuniões online. Com isso, houve maior gasto com internet e, muitas vezes, cumprir horas extras com ou sem consentimento das empresas.
Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), em novembro de 2020, o Brasil atingiu o índice de 7,3 milhões de pessoas trabalhando em esquema de home office.
A experiência foi bastante positiva para a economia das empresas com gastos fixos, mas esses benefícios não refletiram no trabalho dos colaboradores. É o que comprova a pesquisa feita pela Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA-USP) e pela Fundação Instituto de Administração (FIA), em que 73% dos brasileiros afirmam preferir trabalhar em casa, mas contam que a rotina de trabalho é muito mais longa – do que está estipulado no contrato – e mais pesada.
Essa taxa é bem menor para aqueles que têm o desejo de voltar aos escritórios. O número caiu de 19% para 14%. De qualquer modo, 81% dos entrevistados afirmaram que a produtividade em casa é maior ou igual mesmo não estando presencialmente no escritório.
Grandes corporações, como Twitter, XP Inc, Petrobras, Magazine Luiza e Via Varejo (Casas Bahia e Ponto Frio) já declaram o home office definitivo.
De qualquer modo, cabe a cada empresa perceber o melhor método de trabalho para seu sistema de negócio e se vale a pena manter home office, presencial ou modelo híbrido (alternando dias na empresa e em casa). Por isso, home office definitivo x modelo de trabalho híbrido entram na lista dos 5 hábitos que vieram pra ficar na rotina.
Alimentação saudável e preocupação com a imunidade
Com o isolamento social, veio também a preocupação em melhorar a qualidade de alimentação e, principalmente, a busca por alimentos que aumentam a imunidade, já que alguns deles reforçam a proteção do sistema imunológico contra diversas doenças. É importante lembrar que, antes de mudar a rotina de alimentação, sempre consulte um especialista.
Uma pesquisa desenvolvida pelo Estudo NutriNet Brasil – feita pelo Nupens Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde da Universidade de São Paulo -, com 10 mil entrevistados, indicou que houve aumento de 40,2% para 44,6% no consumo de frutas, hortaliças e feijão durante a pandemia, mostrando que houve maior cuidado com a alimentação balanceada.
Para a Dra. Angelica Grecco, nutricionista do Instituto EndoVitta, no início da pandemia as pessoas ainda estavam perdidas e mais focadas na doença e não em alimentação.
“Mesmo aqueles com alimentação equilibrada acabaram abusando de comidas industrializadas e processadas, maior consumo de delivery e descuido no consumo de doces e bebidas alcoólicas, muitas vezes associadas a ansiedade e compulsão”, conta.
A especialista acredita que a preocupação passou a existir após o prolongamento da quarentena, o ligeiro ganho de peso e a inclusão de uma alimentação mais balanceada para melhora da imunidade e redução de fatores de risco para o COVID-19. Portanto, a alimentação saudável faz parte dos 5 hábitos que vieram pra ficar na rotina.
“Creio que, a partir de agora, as pessoas vão começar a se conscientizar que a boa alimentação deve fazer parte da rotina para manter uma vida saudável, principalmente para reduzir os riscos de complicações em algumas doenças e risco de óbito, além de ajudar a controlar sintomas ligados à ansiedade”, completa.
Priorização da saúde mental e bem-estar
Como todos nós tivemos que ficar em casa, sem contato com amigos e colegas, além de ter que administrar múltiplas tarefas, como trabalhar, cuidar da casa, dos filhos e dos familiares, aumentaram os casos de ansiedade, compulsão e depressão.
Uma pesquisa recente realizada pela PoderData relatou que 38% das pessoas declaram estar em uma situação pior de saúde mental do que no início da pandemia.
Em suas consultas online, o psicólogo Ricardo Milito conta que percebeu o impacto da pandemia na saúde mental dos pacientes: “Cada pessoa lida com o isolamento e as mudanças causadas nesse período de formas diferentes. Porém, houve, sim, um aumento substancial de casos de transtornos de ansiedade e depressão”.
Segundo a OMS, o aumento dos sintomas psíquicos e dos transtornos mentais pode ocorrer por diversos motivos: experiências traumáticas associadas à infecção ou à morte de pessoas próximas, o estresse causado pela mudança na rotina, pelas consequências econômicas e nova rotina de trabalho.
Nesses momentos de estresse, o especialista indica que as pessoas procurem por atividades prazerosas, como a prática de exercícios físicos, que libera hormônios, como dopamina, endorfina, serotonina e ocitocina, responsáveis pela sensação de bem-estar e prazer, garantindo qualidade de vida.
Retomada do convívio com a família
Durante a pandemia, vimos muitas pessoas se aproximarem mais da família – já que estavam vivendo na mesma casa. Para o psicólogo, essa relação mais intensa é benéfica também para estreitar os laços afetivos e para ter suporte emocional para lidar com a situação.
“Um dos fatores positivos do isolamento foi o estímulo da aproximação de alguns parentes que não tinham um convívio constante, proporcionando dinâmicas diferentes, como preparo de refeições em conjunto e a participação dos pais nos estudos e atividades dos filhos. No final das contas, bons relacionamentos refletem de forma positiva na nossa saúde física e mental”.
Dados da Escola de Educação da Universidade de Harvard (EUA) revelam que, nos últimos meses, os pais apresentaram uma maior preocupação em conhecer o universo dos filhos. Cerca de 68% afirmam que as conversas diárias estreitaram e melhoraram o relacionamento com as crianças.
Alta dos treinos online e treinos presenciais rápidos
Assim como comércios e empresas, as academias tiveram suas portas fechadas durante a pandemia e, imediatamente, enxergaram a oportunidade de oferecer serviço de treinos online para os alunos. Uma boa saída, já que muitas pessoas manifestaram o interesse em manter os treinos em dia mesmo em casa.
Para comprovar o sucesso recente dos treinos online, a categoria conquistou o primeiro lugar no ranking mundial do Colégio Americano de Medicina do Esporte. Em 2019, nesta mesma categoria, ocupava a 26ª posição.
Nesse período, vimos nomes do setor fitness ganharem destaque nas redes sociais, com lives diárias e interação direto com os seguidores.
Além disso, grandes grupos de academias, como a Smart Fit entraram na tendência lançando a plataforma “Treine em Casa”, exclusiva e gratuita com aulas de diversas modalidades.
A plataforma Queima Diária, maior programa de exercícios online da América Latina, teve um crescimento de 130% no cadastro de alunos durante a pandemia e hoje conta com cerca de 375 mil associados.
Para Lucas Florêncio, treinador do grupo Bio Ritmo, mesmo antes do isolamento, os treinos online já eram bastante procurados por quem não tinha tanto tempo para a atividade física.
“Foi uma ótima forma de potencializar a prática e trouxe melhoria no nível das aulas, das plataformas e da comunicação com as pessoas. Esse nicho de trabalho só tende a crescer bastante, mas acredito que irão surgir novos formatos, programas e aplicativos”.
Com a reabertura das academias, muitos alunos voltaram aos treinos presenciais, mas procurando por aulas rápidas, eficazes e com resultados visíveis a curto prazo.
Lucas conta que, cerca de 95% dos seus alunos não têm mais do que 50 minutos para treinar, por isso a série precisa ser breve e potente.
“Essa é uma tendência crescente nos últimos anos e se intensificou nos últimos meses. Hoje, a pessoa prefere entrar na academia, completar o treino e sair para continuar a rotina de trabalho”, ressalta.
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