Naturalmente, pessoas de gerações diferentes encaram a relação com o trabalho de formas diferentes. A geração Z, formada pelos nascidos entre 1995 e 2010, tem uma prática curiosa chamada de quiet ambition. Ela consiste em redefinir o que consideramos o sucesso profissional, evitando a passagem por cargos de liderança. 

Caso você ainda não entenda sobre o que se trata esse tema ou nunca tenha ouvido falar deste termo, preparamos um material completo para tirar suas principais dúvidas:

O que é quiet ambition?

Buscando o equilíbrio entre vida pessoal e profissional, a quiet ambition (em português, “ambição silenciosa”) é uma prática muito comum entre colaboradores da geração Z. Pensando na saúde mental, essas pessoas não têm vontade de assumir cargos de liderança, mas sim, desenvolver-se tecnicamente e melhorar sua relação com o grupo.

mulher aprendendo mais para o trabalho
Quiet ambition tem seus impactos, mas não é tão negativo quanto parece. Saiba mais neste material!

Isso não quer dizer que a geração Z não tem vontade de crescer. Na verdade, é apenas uma forma diferente de olhar para a evolução da carreira. Esses colaboradores entendem que o sucesso não está atrelado apenas ao status dos cargos de liderança ou os grandes salários que vêm dessas posições. Ao mesmo tempo, eles acreditam que é possível fazer um bom trabalho sem a pressão de liderar um grupo.

De acordo com uma pesquisa da empresa americana Visier publicada no Jornal da USP, para os mil entrevistados, os principais motivos de desinteresse dos colaboradores para os cargos de liderança são o aumento da responsabilidade e pressão (40%) e o aumento da carga horária (39%).

Ao mesmo tempo, as principais metas de vida foram:

  • Ter mais tempo com família e amigos (67%);
  • Saúde mental e emocional (64%);
  • Tempo para viajar (58%);
  • Receber um aumento (54%).

Perceba que, mesmo havendo um objetivo relacionado ao trabalho, ele não está associado à mudança de cargo necessariamente.

Quais são os pontos positivos e negativos da quiet ambition?

Assim como quaisquer decisões que um colaborador possa tomar para a sua carreira, a quiet ambition tem seus pontos positivos e negativos para os colaboradores e para as empresas. Entenda quais são os prós e contras dessa visão de carreira.

entrevista de emprego
Saiba como a quiet ambition pode impactar a vida do colaborador e a empresa

Para os colaboradores

O principal ponto positivo para os colaboradores adeptos da quiet ambition é, justamente, ter mais tempo livre para dedicar à vida pessoal, mais tempo para os filhos, para fazer exercícios físicos, cuidar da saúde, entre outros. Além disso, vale citar a redução do estresse e a prioridade ao bem-estar e à qualidade de vida.

Como essas pessoas não buscam o crescimento vertical no organograma, é importante lembrar que a carreira não para, mas existem outros caminhos. Isso faz com que seja necessária a especialização e a excelência técnica, para que se tornem referência no que exercem, além de ajudarem com contribuições bastante significativas em suas áreas de atuação.

Pensando nos pontos negativos, evitar cargos de gestão pode limitar o crescimento de carreira para esses colaboradores, principalmente em instituições baseadas na ordem de hierarquia tradicional. O reconhecimento vindo da liderança também fica mais limitado, assim como as oportunidades que surgem para os próximos passos na profissão. 

Para as empresas

Como os colaboradores acabam se especializando mais em suas áreas, a empresa tem em mãos profissionais altamente competentes e criativos, contribuindo demais para o desenvolvimento dos produtos e serviços. Falando do ambiente de trabalho, menos pressão para alcançar cargos de liderança pode criar um espaço mais colaborativo e menos competitivo para a equipe.

Ambientes competitivos e tóxicos acabam resultando até mesmo em demissões. Pensando nisso, a quiet ambition é capaz até mesmo de ajudar a reduzir o turnover (rotatividade) dos membros do time. 

Agora, considerando os pontos negativos, com menos pessoas interessadas nos cargos de liderança, pode haver escassez de candidatos internos dispostos e preparados para assumir essas posições e menos dinamismo na estrutura organizacional.

Como contornar os impactos negativos da quiet ambition?

Como citamos na seção acima, a quiet ambition pode ter efeitos negativos na empresa. O que a equipe de RH e gestão de pessoas pode fazer para contornar estes impactos? Existem algumas estratégias interessantes para minimizá-los. 

Mentoria

Um programa de mentoria é capaz de conectar colaboradores mais experientes com os novatos da equipe, com o objetivo de orientá-los sobre as possibilidades do desenvolvimento profissional.

Além disso, essa vivência pode proporcionar um ambiente de desenvolvimento pessoal e profissional que permite que essas pessoas explorem seu potencial de liderança de forma gradual e segura, já que muitos colaboradores da “quiet ambition” podem, na verdade, subestimar sua capacidade de liderar.

Com a mentoria, também é possível continuar em crescimento profissional sem ter a necessidade de um título de liderança. Além de aliviar a pressão de se sentir obrigado a subir na hierarquia, o colaborador segue engajado para contribuir com a empresa em áreas como inovação e habilidades técnicas.

colaboradores fazendo networking
Conectar colaboradores experientes com os mais novos pode ajudar a minimizar os impactos da quiet ambition

Crescimento horizontal

Como já comentamos, não querer assumir liderança não quer dizer evitar o crescimento. Nesse caso, a possibilidade de crescimento horizontal é uma opção, já que ele permite que esses colaboradores avancem em suas carreiras sem precisar necessariamente seguir a rota tradicional de gestão ou liderança formal.

Essa possibilidade pode torná-los especialistas de alto nível em suas áreas, permitir que eles influenciem decisões importantes sem precisar de uma posição de liderança e o RH pode oferecer aumentos salariais e promoções com base em seus conhecimentos, expertise e resultados alcançados em suas áreas de especialização.

Ambiente de trabalho

Sabemos que os colaboradores da quiet ambition buscam o equilíbrio entre a vida pessoal e profissional, principalmente para valorizar sua saúde mental. Pensando nisso, por que não oferecer um ambiente de trabalho que também valorize isso? 

Quando a cultura organizacional promove um ambiente de apoio, segurança psicológica e valorização de diferentes estilos de contribuição, ela cria condições para que haja mais incentivo e criatividade entre os pares.

Esse cuidado ainda é importante para reduzir os índices de burnout (que acomete cerca de 30% dos trabalhadores brasileiros), aumenta a satisfação no trabalho e melhora a produtividade da equipe. O ambiente prazeroso pode ser aliado a outros benefícios, como a possibilidade de trabalho flexível (remoto ou híbrido), acesso a parceiros de saúde e bem-estar, apoio psicológico, entre outros.

Feedback e reconhecimento

Ter um programa que reconhece as contribuições individuais dos membros da equipe fortalece a ideia de que não é necessário liderar pessoas para ser bem-sucedido ou merecer reconhecimento. 

O feedback eficiente, por exemplo, é aquele que pode ser personalizado de acordo com os objetivos de cada colaborador. Para os que não têm interesse em liderança, o feedback pode ser direcionado ao desenvolvimento de habilidades específicas, ao reconhecimento de contribuições únicas e à criação de oportunidades de crescimento técnico ou projetos.

Você, como parte da equipe de gestão de pessoas, o que achou da quiet ambition? A verdade é que as gerações mudam e o trabalho deve acompanhá-las, não é mesmo? Juntos, colaboradores e RH vão entendendo quais dinâmicas mais fazem sentido para a equipe.