Nos últimos anos, o cenário de trabalho tem sido marcado por contrastes como retorno ao presencial e consolidação do remoto, aumento de contratações e reestruturações de equipe, avanço da inteligência artificial e valorização do que é genuinamente humano. E é nesse último ponto que as competências comportamentais ganham ainda mais relevância. 

Segundo uma pesquisa do LinkedIn de 2024, 69% dos executivos afirmaram que pretendiam priorizá-las nas próximas contratações. E o motivo é claro: essas competências dão mobilidade para que um talento transite entre áreas e assuma novos desafios com mais agilidade.

Num mercado cada vez mais dinâmico, contar com equipes adaptáveis, colaborativas e com boa capacidade de resolução de problemas pode ser o diferencial entre estagnar e evoluir. 

Mas como o RH pode identificar e desenvolver essas habilidades nas pessoas colaboradoras? É o que vamos explorar a seguir:

O que são competências comportamentais?

soft skills
Soft skills é outro nome pelo qual as competências comportamentais são reconhecidas

As competências comportamentais, também chamadas de soft skills, são as habilidades que dizem respeito à forma como as pessoas se relacionam, se adaptam e resolvem situações no ambiente de trabalho. Ao contrário das competências técnicas, que podem ser ensinadas com mais objetividade, as comportamentais são desenvolvidas ao longo da vida e influenciam diretamente o desempenho individual e coletivo.

Empatia, escuta ativa, capacidade de se comunicar com clareza, adaptabilidade e pensamento crítico são apenas alguns exemplos. Elas ajudam uma equipe a lidar com mudanças, atravessar conflitos, inovar em processos e colaborar com mais eficácia, o que, na prática, sustenta a saúde da cultura organizacional.

Mais do que um diferencial, essas competências têm se tornado essenciais, especialmente em um cenário onde a transformação digital exige talentos com perfil mais flexível e colaborativo. Para os times de RH, entender bem essas habilidades é o primeiro passo para formar equipes mais preparadas para o contexto atual e para o futuro.

Quais são as competências comportamentais mais valorizadas no mercado?

O mercado de trabalho nunca foi tão dinâmico e isso impacta diretamente as competências comportamentais mais valorizadas em cada setor.

Na área de tecnologia, por exemplo, um levantamento global de 2024 revelou que a habilidade mais desenvolvida entre profissionais de TI foi a resolução de problemas, com 21% dos entrevistados focando nesse aprimoramento. Em seguida, vieram comunicação eficaz (14%) e capacidade de construir relacionamentos (11%). Já competências tradicionalmente ligadas à lógica, como o pensamento analítico, ficaram atrás, sendo priorizadas por apenas 5% dos profissionais.

Essa tendência se repete em outros contextos, mas com nuances. No Reino Unido, cerca de 90% dos empregadores já consideram as soft skills cruciais no processo de contratação. Por lá, comunicação, liderança e resolução de problemas estão no topo da lista. Já na Holanda, uma análise de vagas de emprego mostrou que entusiasmo foi a competência mais mencionada, presente em cerca de 20% das oportunidades. E ficou à frente até mesmo da criatividade!

Então, RH, fique atento(a). Antes de definir quais competências buscar ou desenvolver, é fundamental considerar o perfil do time, a estratégia da empresa e os desafios específicos de cada função. A partir disso, fica mais fácil mapear as soft skills realmente relevantes para o sucesso do negócio.

Quais são as principais competências comportamentais?

Não basta saber quais competências estão em alta. Para o RH, o desafio real está em reconhecê-las nos profissionais e fomentar seu desenvolvimento. Abaixo, listamos 11 habilidades comportamentais essenciais e como elas se manifestam no ambiente de trabalho:

1. Comunicação

Mais do que falar bem, é saber transmitir ideias com clareza e escutar com atenção. Um bom comunicador é aquele que, numa reunião difícil, consegue alinhar expectativas sem gerar ruídos.

2. Colaboração

Envolve disposição para dividir tarefas, ouvir opiniões diferentes e construir junto. Um exemplo? Alguém que, ao ver um colega sobrecarregado, se oferece para ajudar, mesmo que não seja sua função direta.

3. Criatividade

Não é só “pensar fora da caixa”, mas propor soluções originais e viáveis. Como quem, diante de um corte de orçamento, encontra uma nova forma de entregar o mesmo resultado com menos recursos.

4. Resolução de problemas

É a habilidade de analisar cenários complexos e encontrar caminhos práticos para solucioná-los. Você reconhece isso em quem, ao invés de escalar o problema para a liderança, já chega com três possíveis soluções.

5. Liderança

Independentemente do cargo, um perfil com liderança inspira, orienta e influencia positivamente. Pode ser aquele profissional que conduz um projeto com proatividade e engaja os colegas com naturalidade.

6. Capacidade de aprendizado

Abertura para evoluir, rever práticas e aprender com os erros. Dá para perceber isso em quem busca feedbacks, adapta processos e está sempre se atualizando, mesmo sem ser cobrado.

7. Empatia

É a habilidade de se colocar no lugar do outro com escuta ativa e genuína. Está presente em quem ajusta seu discurso para não constranger um colega ou percebe quando alguém não está bem, mesmo sem dizer uma palavra.

8. Inteligência emocional

Saber lidar com as próprias emoções e com as dos outros. Um profissional emocionalmente inteligente respira fundo antes de reagir, entende os gatilhos de estresse da equipe e contribui para um ambiente mais saudável.

9. Autogestão

Capacidade de organizar demandas, prazos e prioridades sem depender de supervisão constante. É quem entrega antes do deadline (prazo final), comunica desvios com antecedência e evita retrabalhos.

10. Autoconhecimento

É saber reconhecer suas forças e limitações. Um exemplo claro é quando alguém recusa um desafio porque sabe que ainda não domina aquele assunto, mas pede apoio ou propõe uma alternativa.

11. Pensamento crítico

São colaboradores que sabem questionar com propósito. Um talento com pensamento crítico não aceita processos engessados só porque “sempre foi assim”. Ele analisa, sugere melhorias e traz argumentos consistentes.

Como identificar competências comportamentais no recrutamento e seleção?

competências comportamentais
Não é fácil identificar as competências comportamentais logo de cara durante um processo de seleção

Competências como empatia, comunicação ou pensamento crítico raramente são descritas com clareza em uma linha do currículo ou em um post no LinkedIn. Por isso, o papel do RH no momento da atração e seleção é saber observar comportamentos, fazer as perguntas certas e avaliar como a pessoa candidata responde a diferentes situações.

A seguir, algumas boas práticas que ajudam nesse processo:

Observe atitudes ao longo da jornada

Como alguém responde a um e-mail, interage durante uma dinâmica ou lida com mudanças de agenda já diz muito sobre sua postura e habilidades sociais.

Use perguntas comportamentais nas entrevistas

Questione com base em situações reais: “Me conte sobre um momento em que você teve que lidar com um conflito de equipe” ou “O que você faz quando precisa entregar algo que nunca fez antes?”. Preste muita atenção a como essas perguntas serão respondidas. Respostas objetivas e com exemplos concretos revelam mais do que frases prontas.

Promova simulações e cases práticos

Desafios simulados ajudam a ver como a pessoa pensa, colabora e reage sob pressão. Em processos seletivos para cargos de liderança, por exemplo, vale observar como ela escuta opiniões divergentes ou organiza ideias em grupo.

Considere testes de perfil e feedbacks anteriores

Ferramentas de avaliação podem ajudar a identificá-las, desde que usadas com responsabilidade e em conjunto com outros métodos. Se a pessoa candidata já trabalhou na empresa, vale buscar feedbacks prévios.

Envolva mais pessoas no processo

Diferentes olhares ajudam a ter uma visão mais ampla. Um talento pode se mostrar mais comunicativo com uma liderança do que com o RH, ou vice-versa. Compartilhar impressões entre entrevistadores pode evitar julgamentos enviesados.

Como desenvolver as competências comportamentais na sua empresa?

Essas competências não nascem prontas. Elas se desenvolvem com tempo, prática e, principalmente, com ambientes que favorecem esse crescimento. O papel do RH é justamente criar essas condições, tanto para as lideranças quanto para os times.

A seguir, algumas estratégias simples, mas poderosas, para fortalecer essas competências dentro da sua empresa:

1. Capacite as lideranças para observar e desenvolver habilidades comportamentais

Líderes são agentes multiplicadores. Quando entendem a importância das soft skills e sabem reconhecê-las nas equipes, passam a reforçar comportamentos positivos no dia a dia. Vale promover workshops, treinamentos e até rodas de conversa sobre o tema.

2. Crie espaços seguros para feedbacks e conversas sinceras

Feedback não precisa ser algo formal e tenso. Ele pode (e deve!) ser recorrente, com foco em ajudar a pessoa a se desenvolver. Ambientes em que é possível falar e ouvir com respeito tendem a fortalecer a empatia, a escuta ativa e a inteligência emocional.

3. Ofereça trilhas de desenvolvimento contínuo

Plataformas de aprendizagem, sessões de mentoria e conteúdos personalizados são ótimas formas de estimular o aprendizado de forma leve e constante. O importante é deixar claro que desenvolver soft skills faz parte do plano de crescimento da empresa.

4. Estimule a colaboração entre áreas

Projetos interdepartamentais criam oportunidades reais de convivência e aprendizado coletivo. Quando diferentes perfis trabalham juntos, é natural que habilidades como comunicação, pensamento crítico e adaptabilidade sejam colocadas à prova.

5. Valorize comportamentos, não só resultados

Reconhecer publicamente atitudes como escuta ativa, boa gestão emocional ou iniciativa em momentos difíceis é uma forma concreta de mostrar que essas competências importam. Com o tempo, isso se transforma em cultura.

Como avaliar competências comportamentais com mais precisão

Avaliar competências comportamentais pode parecer subjetivo, mas existem formas de tornar esse processo mais claro e confiável. Veja algumas dicas práticas:

  • Defina quais competências são estratégicas para cada cargo. Um analista de dados pode precisar de pensamento crítico e foco, enquanto uma liderança precisa ter boa comunicação e empatia;
  • Utilize avaliações estruturadas, com base em comportamentos observáveis. Pode ser uma matriz simples, onde o avaliador indica frequência ou intensidade de determinada atitude;
  • Inclua múltiplas fontes de feedback. Isso ajuda a reduzir vieses e dá uma visão mais completa sobre como a pessoa se comporta no dia a dia;
  • Dê devolutivas e acompanhe a evolução. Ofereça um plano de desenvolvimento e acompanhe os avanços com conversas periódicas.

Desenvolver competências comportamentais é um investimento contínuo e essencial. Afinal, são essas habilidades que sustentam times mais engajados, resilientes e preparados para os desafios do futuro.

Agora, continue aprendendo sobre postura profissional, como desenvolver na empresa!