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Alimentação Culinária afro-brasileira: os sabores que contam a história do Brasil
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Culinária afro-brasileira: os sabores que contam a história do Brasil

Foto do autor Escrito por: Lucas Custódio 10 de novembro de 2025

Falar sobre comida é falar sobre gente. Sobre quem planta, cozinha, compartilha e ensina. No Brasil, a culinária afro-brasileira vai além de só ingredientes e temperos, é herança, fé e resistência. Cada receita carrega uma história de adaptação, criatividade e ancestralidade.

No Dia da Consciência Negra, celebrar esses sabores é reconhecer a luta e o legado do povo preto que, mesmo diante da dor, transformou o alimento em memória, sustento e identidade. Honrar a culinária afro-brasileira é, portanto, uma forma de manter viva a história de quem moldou grande parte da nossa cultura.

20 de novembro: o dia que nos convida à consciência

O Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro, é um lembrete da luta e da resistência do povo negro no Brasil. A data marca a morte de Zumbi dos Palmares, líder do maior quilombo da história, símbolo de liberdade e coragem diante do regime escravocrata.

O dia é um convite à reflexão sobre o racismo que ainda persiste na sociedade, sobre as histórias que foram silenciadas e sobre as inúmeras formas com que a cultura negra moldou o país. Da música à fé, da linguagem aos costumes, e, de modo especial, à mesa, onde a ancestralidade africana temperou o que hoje reconhecemos como sabor brasileiro.

Celebrar a comida afro-brasileira nesse contexto é celebrar vidas, trajetórias e saberes que atravessaram séculos. É reconhecer que o que comemos carrega a força de quem resistiu, criou e transformou, fazendo da culinária um dos pilares da nossa identidade nacional.

O sabor afro-brasileiro como memória e resistência

feijoada
Muitos dos nossos pratos mais famosos fazem parte da culinária afro-brasileira, como a feijoada 

A comida afro-brasileira nasceu da necessidade, mas floresceu como símbolo de resistência. Nos tempos coloniais, enquanto a escravidão tentava apagar identidades, o ato de cozinhar tornou-se uma forma silenciosa de preservá-las. Cada receita carregava lembranças de um continente distante e a esperança de liberdade.

As panelas ferviam não apenas com ingredientes, mas com histórias. As mulheres negras, primeiras cozinheiras do Brasil, criaram e recriaram pratos com o que havia disponível, transformando o pouco em sabor, e o sabor em afeto. Na cozinha, elas mantiveram vivas as tradições, transmitindo saberes de geração em geração.

Entre ingredientes como o azeite de dendê, o quiabo, o cuscuz, o maxixe e o inhame, surgiu uma culinária que se tornou alicerce da cultura brasileira. Comer, nesse contexto, é um ato político e de memória. 

Pratos da culinária afro-brasileira que contam a nossa história

A culinária afro-brasileira é um retrato vivo de um povo. Cada prato traz em si um pedaço da história do Brasil e da presença africana que o formou.

Acarajé

Comercializado no passado por mulheres negras escravizadas ou libertas, as ganhadeiras, o quitute que um dia foi ritual para os orixás virou também fonte de liberdade e autonomia econômica. Com o dinheiro arrecadado das vendas, muitas vezes, pagavam a sua liberdade, de seus companheiros, filhos e outros parentes

Sua origem está ligada ao kosai ou àkàrà (que significa “bola de fogo de comer” na etnia iorubá) e, atualmente, o Ofício das Baianas de Acarajé é reconhecido como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil. 

Feijoada

Mais que um ícone nacional, a feijoada que conhecemos hoje é um prato que representa a miscigenação cultural brasileira. Sua criação é um processo de hibridização cultural, resultado da interação entre as culinárias portuguesa, africana e indígena, e que evoluiu para se tornar um símbolo nacional.

Vatapá e caruru

O vatapá e o caruru traduzem a herança iorubá em forma de sabor. Preparados com azeite de dendê, camarão e leite de coco, esses pratos ligam o cotidiano à religiosidade, sendo oferendas aos orixás e símbolos da cozinha afro-baiana.

Bobó de Camarão

Rico em cores e aromas, o bobó de camarão é uma representação direta da herança africana na culinária do país. Ele é uma adaptação afro-brasileira do prato africano chamado ipetê, feito com inhame, que se tornou o bobó com mandioca, azeite de dendê e outros ingredientes locais.

3 receitas típicas da culinária afro-brasileira para conhecer e se inspirar

1. Acarajé (servido com vatapá)

acarajé
Algumas versões do Acarajé podem ser preparadas com bastante pimenta. O acarajé quente, geralmente, é um acarajé bastante apimentado na culinária afro-brasileira

Ingredientes:

  • 500 g de feijão fradinho;
  • 3 cebolas médias;
  • Sal a gosto;
  • 3 xícaras de azeite de dendê;
  • 250 g de camarão seco;
  • 1L de leite de coco;
  • 150 g de amendoim torrado e sem pele;
  • 75 g de castanha-de-caju;
  • 1 xícara de farinha de mandioca torrada;
  • Gengibre ralado a gosto;
  • Azeite de dendê a gosto (para o vatapá);
  • Camarões grelhados e vinagrete para servir na finalização.

Modo de preparo da massa do acarajé:

1. Bata o feijão no processador até quebrar os grãos;

2. Coloque em um recipiente, cubra de água e reserve; 

3. Com o auxílio de uma peneira, retire as cascas que boiarem na água;

4. Deixe o feijão de molho por 8 horas e, em seguida, escorra a água;

5. Bata o feijão e a cebola no processador, até que virem uma pasta; 

6. Coloque a mistura em um recipiente, tempere com sal e mexa usando uma colher. 

Modo de preparo da fritura:

1. Aqueça o óleo de dendê;

2. Coloque uma cebola inteira no azeite de dendê para manter a temperatura correta do óleo e evitar que ele queime;

3. Pegue uma colher grande, generosa, da massa e coloque no óleo, deixando dourar de ambos os lados. 

Modo de preparo do vatapá

1. Bata no liquidificador o camarão seco, o leite de coco, o amendoim, a castanha-de-caju, a cebola, a farinha de mandioca e o gengibre;

2. Adicione sal à mistura;

3. Coloque em uma panela e cozinhe em fogo médio, mexendo o tempo todo para não empelotar;

4. Adicione gotas de azeite de dendê, apenas o suficiente para dar cor e sabor ao vatapá.

5. Quando o creme desgrudar do fundo da panela, está pronto!

Corte o acarajé ao meio e recheie com o vatapá, vinagrete e camarão grelhado.

2. Canjica (Mungunzá)

canjica
O Mungunzá é um prato da culinária afro-brasileira que ficou bastante conhecido durante as festas de São João 

Ingredientes:

  • 2 xícaras (chá) de canjica de milho;
  • 2 litros de água;
  • 1 xícara (chá) de açúcar;
  • 1L de leite;
  • 100 g de coco ralado;
  • Canela a gosto;
  • Cravo-da-índia a gosto;
  • 1 lata de leite condensado;
  • 1 lata de creme de leite.

Modo de preparo:

1. Deixe a canjica de molho na água por 24 horas;

2. Coloque a canjica em uma panela de pressão e adicione a água;

3. Adicione cravo e canela e cozinhe por 45 minutos;

4. Abra a panela e acrescente o açúcar, o leite, o leite condensado e o coco;

5. Com a panela destampada, cozinhe até que a canjica de milho engrosse;

6. Desligue o fogo e acrescente o creme de leite;

7. Misture e sirva.

3. Cuscuz

cuscuz
Existem diversas variações da preparação do cuscuz no Brasil. O prato afro-brasileiro é vindo dos países no norte da África 

Ingredientes:

  • ½ xícaras de flocos de milho;
  • 2 ¼ xícaras de água;
  • ½ colher (chá) de sal;
  • 1 colher de sopa de manteiga.

Modo de preparo:

1. Coloque os flocos de milho e o sal, misturando com água, em um recipiente;

2. Aperte o cuscuz com as mãos, atentando para não amassar demais e deixá-lo mole;

3. Insira a massa na cuscuzeira e deixe descansar por, no mínimo, 20 minutos;

4. Leve ao fogo médio por pelo menos 15 minutos;

5. Apague o fogo e deixe descansar por mais alguns minutos;

6. Pronto! O cuscuz é uma delícia servido com manteiga.

Ao preparar, compartilhar ou simplesmente saborear essas receitas, estamos mantendo viva a herança do povo negro e fortalecendo a conexão entre passado e presente. Honrar esses sabores é, portanto, uma forma de celebrar a vida, a cultura e a memória de quem fez do alimento um gesto de resistência e amor.

Se fizer em casa alguma dessas receitas, tire uma foto e compartilhe com a gente no Instagram: @TotalPass. Bom apetite!

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