Transtorno Dissociativo de Identidade: o que saber sobre
Imagine viver em um corpo, mas com a sensação de que não está sozinho(a) dentro de si. Mais do que mudanças de humor ou fases da vida, estamos falando de diferentes “eus”, com personalidades múltiplas e que assumem o controle em momentos distintos. Essa é a realidade de quem vive com o Transtorno Dissociativo de Identidade (TDI), uma condição complexa que ainda desperta muita curiosidade e também bastante preconceito.
Para isso, vamos entender melhor o que é o TDI, suas principais características, causas, sintomas e formas de tratamento, desmistificando alguns estereótipos e trazendo informações baseadas em evidências. Confira alguns pontos abordados a seguir:
- Mas, afinal, o que é o Transtorno Dissociativo de Identidade?
- Quais as principais características do Transtorno Dissociativo de Identidade?
- Quais são as causas do Transtorno Dissociativo de Identidade?
- Como é o dia a dia de quem vive com Transtorno Dissociativo de Identidade?
- Existe tratamento para o Transtorno Dissociativo de Identidade?
Boa leitura!
Mas, afinal, o que é o Transtorno Dissociativo de Identidade?

O Transtorno Dissociativo de Identidade, também conhecido como “transtorno de personalidade múltipla”, é uma condição de saúde mental caracterizada pela presença de duas ou mais identidades, ou estados de personalidade distintos que assumem, em diferentes momentos, o controle sobre o comportamento de uma pessoa.
Quando se cria essas identidades, também chamadas de “alteres”, elas podem ter nomes, idades, gêneros, vozes e até memórias próprias. É como se cada uma tivesse uma forma específica de pensar, sentir e agir.
O TDI faz parte de um grupo maior chamado transtornos dissociativos, que envolvem desconexões ou interrupções na consciência, memória, identidade ou percepção da realidade. Essa dissociação é, muitas vezes, um mecanismo de defesa psicológico diante de experiências traumáticas.
Desmistificando o Transtorno Dissociativo de Identidade
O TDI é frequentemente retratado de forma sensacionalista em filmes e séries, o que contribui para estigmas e estereótipos de diversos tipos. Ao contrário da imagem popular, nem todas as trocas de identidade são dramáticas ou perigosas.
Pessoas com TDI não são “fingidoras” nem “manipuladoras”, elas vivenciam uma condição real, reconhecida pela comunidade científica, e merecem respeito e compreensão.
Quais as principais características do Transtorno Dissociativo de Identidade?
Embora cada pessoa com TDI tenha vivências únicas, ele pode se manifestar de forma ampla e variada. No entanto, existem algumas características comuns que ajudam a identificar o transtorno:

1. Múltiplas identidades
A presença de diferentes identidades ou personalidades é o traço mais marcante, elas podem ter características próprias. Cada “alter” pode ter suas próprias preferências, gostos alimentares, sotaque, postura corporal e até habilidades motoras específicas e diferentes.
2. Amnésia dissociativa
É comum que a pessoa não se lembre de eventos ocorridos quando outra identidade estava no controle. Isso pode incluir períodos “em branco” ou lembranças fragmentadas. Se esquecer de conversas até não se lembrar de períodos inteiros, são frequentes.
3. Mudanças de comportamento abruptas
Transições entre identidades podem ser rápidas ou graduais, e são acompanhadas por mudanças visíveis no comportamento, na voz e na expressão corporal. As mudanças de humor, por exemplo, podem ser repentinas e intensas, acompanhando a troca de identidades.
4. Despersonalização e desrealização
Muitas pessoas com TDI relatam sentir como se estivessem assistindo à própria vida, ou até mesmo ouvir vozes, como se fosse um espectador. Além disso, a sensação de estar desconectado de si (despersonalização) ou de que o mundo ao redor parece irreal (desrealização) também são comuns.
5. Impacto funcional
O Transtorno Dissociativo de Identidade pode afetar de forma significativa a vida social, profissional e emocional da pessoa, dificultando relacionamentos e rotinas.
6. Mudanças de percepção sensorial
Algumas identidades podem apresentar alterações na visão, na audição ou até no limiar de dor.
7. Dificuldades de concentração
A fragmentação da consciência pode prejudicar o foco e a capacidade de tomar decisões.
8. Sintomas físicos sem explicação médica
Dores, fadiga e outros desconfortos podem surgir sem causa física aparente.
Quais são as causas do Transtorno Dissociativo de Identidade?
As causas do TDI estão fortemente ligadas a experiências traumáticas graves e repetidas, especialmente durante a infância. A hipótese mais aceita é que o transtorno surge como uma forma de lidar com dor emocional insuportável ou ameaça constante.
Alguns fatores associados incluem:
Abuso físico, sexual ou emocional na infância
O trauma precoce, quando vivido repetidamente e sem possibilidade de fuga ou proteção, pode levar a mente a “dividir” a consciência como forma de autopreservação.
Negligência extrema
A ausência de cuidado, atenção e segurança emocional pode contribuir para a dissociação como mecanismo de defesa.
Ambientes instáveis ou violentos
Crescer em um contexto imprevisível, com medo constante, favorece o desenvolvimento de estratégias mentais dissociativas.

Fatores neurobiológicos
Estudos sugerem que alterações em áreas do cérebro relacionadas à memória, emoção e integração de experiências podem estar envolvidas.
Fatores culturais e sociais
A forma como a dissociação é percebida e interpretada varia conforme a cultura e outros fatores externos, o que pode influenciar na manifestação do transtorno.
Como é o dia a dia de quem vive com Transtorno Dissociativo de Identidade?
Essa condição pode ser diagnosticada e viver com ela vai muito além dos sintomas descritos nos manuais de diagnóstico. O dia a dia pode incluir desafios práticos que passam despercebidos para quem não convive com a condição.
Um dos maiores obstáculos é lidar com as lacunas de memória. Uma pessoa pode acordar e perceber que não se lembra de eventos das últimas horas ou até dias porque outra identidade estava no controle. Isso pode gerar confusão, constrangimento e, muitas vezes, medo.
Outro desafio é a alternância de identidades em situações inesperadas, como durante uma reunião de trabalho, em um encontro social ou até em momentos de lazer. Embora nem sempre seja perceptível para os outros, a troca pode gerar ansiedade e desorientação.
Para manter a estabilidade, muitas pessoas com TDI criam rotinas estruturadas e utilizam recursos como agendas, aplicativos de lembrete e listas de tarefas, garantindo que eventos diários, compromissos e informações pessoais importantes não sejam esquecidos.
Além disso, o suporte de familiares, amigos e terapeutas é fundamental. Estratégias como técnicas de grounding (exercícios que ajudam a “voltar” para o momento presente) e práticas de autocuidado, como meditação, hobbies e atividades físicas, também podem ajudar a reduzir o impacto dos episódios dissociativos no cotidiano.
Apesar das dificuldades, com tratamento e apoio, é possível ter qualidade de vida e desenvolver maneiras eficazes de gerenciar a condição e o diagnóstico do transtorno dissociativo de identidade.
Existe tratamento para o Transtorno Dissociativo de Identidade?

Sim, o TDI pode ser tratado, embora o processo seja, em geral, longo e complexo. O objetivo principal não é “eliminar” as identidades, mas integrar as experiências e memórias para que a pessoa tenha maior controle sobre sua vida e menos sofrimento.
As abordagens mais comuns incluem:
1. Psicoterapia
É a base do tratamento. As modalidades mais utilizadas são:
- Terapia focada no trauma: ajuda a processar lembranças dolorosas de forma segura e gradual;
- Terapia cognitivo-comportamental (TCC): auxilia na identificação e mudança de padrões de pensamento e comportamento disfuncionais;
- Terapia dialética comportamental (DBT): trabalha a regulação emocional e a tolerância ao estresse;
- Terapia de integração de identidades: busca construir pontes entre as diferentes partes da personalidade.
2. Medicação
Não existe um medicamento específico para o TDI. Em algumas situações, antidepressivos, ansiolíticos ou estabilizadores de humor podem ser usados para tratar sintomas associados, como depressão e ansiedade, desde que recomendados por um médico.
3. Técnicas de grounding
São estratégias para ajudar a pessoa a se manter conectada ao momento presente, reduzindo episódios de dissociação.
4. Educação e apoio
Entender o transtorno e contar com uma rede de apoio: família, amigos ou grupos terapêuticos, é essencial para lidar com os desafios do dia a dia.
O Transtorno Dissociativo de Identidade é um exemplo de como a mente humana pode criar mecanismos complexos para lidar com dor e trauma. Ao entender melhor o que é, suas características, causas, sintomas e tratamentos, damos um passo importante para quebrar preconceitos e oferecer mais acolhimento a quem vive essa realidade.
Informação e empatia são fundamentais para que possamos enxergar além das aparências e compreender que, por trás de cada identidade, existe uma história que merece ser ouvida.