Diversidade etária no trabalho: o que o RH precisa saber
A diversidade etária no trabalho é um tema cada vez mais relevante para empresas que desejam se manter competitivas e humanas ao mesmo tempo.
Com o aumento da longevidade e a entrada de novas gerações no mercado, é fundamental que os ambientes corporativos estejam preparados para lidar com a convivência entre diferentes faixas etárias. Não se trata apenas de números ou de políticas internas, mas de uma transformação de cultura que valorize o repertório, as vivências e as formas únicas de contribuição de cada colaborador.
Para aprofundar esse debate, o programa Café com RH, da TotalPass, promoveu uma conversa entre duas especialistas no assunto: Tatiana Romero, Diretora de RH e Operações na Ticket, com mais de 25 anos de experiência na área, e Suzie Clavery, CHRO Latam da TotalPass.
A conversa girou em torno dos desafios e oportunidades que surgem quando empresas apostam na inclusão geracional como estratégia de inovação, colaboração e bem-estar no local onde trabalha. Um conteúdo indispensável para quem atua com gestão de pessoas e quer olhar para o futuro com mais empatia e estratégia.
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- Do que se trata a diversidade etária no trabalho?
- Quais desafios a diversidade etária no trabalho pode enfrentar?
- Quais os benefícios da diversidade etária no trabalho?
- Quais competências são essenciais para a liderança lidar com a diversidade etária no trabalho?
Do que se trata a diversidade etária no trabalho?

Diversidade etária é a inclusão intencional e estratégica de pessoas de diferentes faixas etárias nas equipes corporativas.
Jovens em início de carreira, profissionais em fase de consolidação e pessoas com mais tempo de estrada devem compartilhar o mesmo ambiente, contribuindo com olhares únicos e complementares, independentemente da idade.
Mas é importante destacar: não basta apenas compor times com idades variadas. O verdadeiro valor da diversidade etária está em reconhecer e integrar as contribuições de todas as gerações, estimulando uma convivência baseada na troca de experiências e na valorização mútua.
O diferencial da diversidade etária está no potencial de criar uma ponte intergeracional no dia a dia, com aprendizados que vão além das habilidades técnicas e promovem, de fato, um senso coletivo de pertencimento e evolução contínua.
Como destacou Tatiana Romero “a riqueza da diversidade etária fica em segundo plano porque ela demorou a entrar nas discussões. O que falta ainda é entender que a questão geracional não são dados […], mas ver o que ela realmente traz para o negócio”.
Isso inclui enfrentar o etarismo, que ainda exclui profissionais maduros por puro preconceito, e desenvolver práticas que enxerguem potencial além da idade, desde o recrutamento até a retenção de talentos.
Quais desafios a diversidade etária no trabalho pode enfrentar?
Promover a diversidade etária no trabalho vai além de abrir vagas para todas as idades: é preciso lidar com os desafios estruturais, culturais e até emocionais que envolvem o tema. E um dos principais obstáculos ainda é o etarismo: o preconceito ou discriminação com base na idade, que pode atingir tanto profissionais mais velhos quanto os mais jovens.
No ambiente corporativo, esse preconceito muitas vezes aparece de forma sutil: pode ser a exclusão de colaboradores acima dos 50 anos de treinamentos estratégicos, sob a justificativa de que “já estão perto de se aposentar”; ou a desvalorização de ideias de pessoas jovens, porque “ainda não têm experiência suficiente”.
Quando o viés etário entra em cena, todo mundo perde: a empresa, o time e os próprios talentos que deixam de se desenvolver.
A pesquisa “Etarismo e inclusão da diversidade geracional nas organizações”, da Robert Half com a Labora, revela que 56% das pessoas entre 50 e 64 anos estão fora do mercado de trabalho. Já um levantamento da Infojobs apontou que 61% dos profissionais acima de 40 anos têm dificuldade para conseguir recolocação.
Ou seja, o preconceito etário ainda é um entrave real e relevante para a construção de ambientes inclusivos e inovadores.
A diretora de RH da Ticket trouxe uma reflexão potente: “A gente ainda tem esse pré-conceito de que os perfis são completamente diferentes […] Sempre tem uma geração nova entrando, e sempre o problema é a geração que está chegando. Será que é isso mesmo?”
Quais os benefícios da diversidade etária no trabalho?

Adotar uma cultura que valorize diferentes gerações no ambiente corporativo é uma estratégia de sucesso para empresas que desejam inovar, engajar e crescer de forma sustentável. Veja alguns dos principais benefícios que a diversidade etária pode trazer para as organizações:
Aumento da criatividade e da inovação
A diversidade de experiências, vivências e referências entre as gerações contribui para soluções mais criativas e originais. A troca entre diferentes idades é, na prática, um motor da inovação.
Melhoria na tomada de decisões
Equipes multigeracionais costumam ter um olhar mais completo sobre os desafios do dia a dia. A variedade de pontos de vista permite decisões mais equilibradas e bem embasadas, afinal, cada geração contribui com sua forma de pensar, analisar e agir.
Fortalecimento da cultura organizacional
Ambientes que acolhem diferentes idades tendem a ser mais empáticos, diversos e conectados com a realidade da sociedade. Isso fortalece a cultura da empresa toda, promovendo respeito, troca e pertencimento.
Melhora da produtividade e do desempenho
Times compostos por diferentes faixas etárias apresentam melhor desempenho e produtividade. A combinação entre energia, experiência e adaptabilidade cria uma dinâmica de trabalho mais eficiente e inteligente, principalmente em situações que exigem tomada de decisão rápida e assertiva.
Redução do turnover
Ambientes diversos e inclusivos, onde todos se sentem parte, tendem a reter talentos por mais tempo: colaboradores de diferentes idades permanecem nas empresas quando percebem que suas contribuições são valorizadas, o que reduz o índice de rotatividade e cria uma base sólida de conhecimento interno.
Clima organizacional mais leve e equilibrado
A convivência entre diferentes gerações traz um equilíbrio saudável entre o pensamento tradicional e o moderno. Isso cria um ambiente mais dinâmico, onde há espaço tanto para novas ideias quanto para a sabedoria acumulada.
Potencialização da inovação organizacional
A diversidade etária contribui para uma cultura de inovação contínua. A riqueza de perspectivas e experiências oferece insumos para desenvolver produtos, processos e soluções mais eficazes e alinhadas com os diferentes públicos da empresa.
Quais competências são essenciais para a liderança lidar com a diversidade etária no trabalho?
Liderar uma equipe multigeracional exige inteligência emocional, empatia e intencionalidade. Afinal, estamos falando de pessoas com vivências, valores e repertórios diferentes convivendo no mesmo espaço.
Para transformar essa diversidade em potência, listamos abaixo as competências mais importantes que uma liderança precisa desenvolver.
Escuta genuína e empática
Segundo a diretora de RH da Ticket, essa é “a principal competência” e o primeiro passo quando o assunto é diversidade etária. Não basta “ouvir por ouvir”: é preciso escutar com abertura, sem julgamentos, buscando entender o que está por trás das falas de cada colaborador.
Segurança psicológica no ambiente de trabalho
Um líder que promove a diversidade precisa garantir que sua equipe se sinta segura para opinar, errar, aprender e contribuir. Como bem pontuou Tatiana, “se a gente não cria um ambiente onde as pessoas possam falar e possam ser ouvidas, que elas possam errar e todas as ideias possam ser aproveitadas, não adianta”.
Capacidade de construir pontes
Liderar diferentes gerações é saber intermediar diálogos e criar conexões entre perfis distintos. Isso passa por incentivar encontros, projetos colaborativos e trocas intergeracionais no dia a dia.
Autoconhecimento
Antes de liderar o outro, é preciso entender a si. Ter clareza sobre seus próprios vieses, formas de agir e pontos de melhoria é essencial para exercer uma liderança empática e flexível. O autoconhecimento é a base para lidar com as diferenças com maturidade e sabedoria.
Propósito e visão de desenvolvimento humano
Como destacou Suzie, “liderança não é cargo e salário, é muito mais que isso: é trabalhar com propósito de desenvolver pessoas e acreditar em talentos”. Um bom líder é aquele que enxerga valor em cada trajetória, sabe reconhecer potencial em qualquer idade e atua como facilitador do crescimento dos outros.
Abertura para aprender constantemente
Liderar gerações diferentes também é estar disposto a aprender com elas. A curiosidade e a humildade para ouvir, experimentar e rever estratégias são fundamentais.
Incentivo ao diálogo e à colaboração
Criar espaços de troca entre gerações, como grupos de afinidade, rodas de conversa e programas de mentoria reversa, é uma estratégia poderosa. O papel da liderança é incentivar essas práticas e garantir que todos tenham voz ativa nas decisões e nos rumos da equipe.
Vale lembrar que essas competências não são apenas “boas práticas”: elas são indispensáveis para que a diversidade etária realmente funcione na prática. Com líderes preparados e conscientes, o RH ganha um grande aliado na construção de um ambiente mais inclusivo, colaborativo e produtivo para todas as idades.
Como vimos, incluir diferentes gerações no ambiente de trabalho traz ganhos reais em criatividade, inovação, produtividade e clima organizacional. Mas, mais do que isso, é uma forma de reconhecer e valorizar a história, o potencial e os sonhos de cada colaborador.
Tatiana reforça: “É muito mais além da idade. É preciso entender a trajetória e o sonho de cada pessoa, tirar rótulos e captar a essência de cada um.” Para isso, é essencial criar ambientes de escuta, abrir espaço para o diálogo e perguntar ativamente o que cada pessoa deseja.
Promover essa mudança é uma responsabilidade que começa no RH, mas que precisa ser abraçada por toda a organização. Confira mais insights no vídeo: